quinta-feira, 6 de julho de 2017

Depoimento público

Ser muito mais que um objeto sexual atraente, passivo, submisso, dependente, frágil, que, numa performance de poder e dominação, se silencia e/ou é silenciado para não entrar em confronto com a voz masculina. Essa é a luta diária de milhares de mulheres para realizarem sua própria representação no mundo enquanto sujeitos, protagonistas e narradoras da sua própria história. Verdadeiras amazonas.

Só depois de muito tempo descobri a história da minha verdadeira origem. Uma vibração oscilante entre o azul e o vermelho em pleno violeta. Não nasci doente, mas a mente foi corrompida pelo estresse psicológico e emocional dessa época convencionada como pós-moderna. Tinha 17 anos, iria prestar vestibular pela primeira vez. Apesar da fama de nerd, sempre que anunciava na rádio uma rave, eu ia como válvula de escape. O que funcionava muito bem.

Minha casa, minha luta... E não era culpa do meu pai, pelo contrário, era minha mãe desequilibrada, ansiosa, perfeccionista, falsa moralista... Eu nem imaginava que meu pai tinha que suportar tanta coisa, não mais pela vida conjugal, mas para o bem dos filhos, para nossa formação psicológica, emocional e material, já que ele bancava tudo sozinho. Mas eu, na época, por achar que minha mãe estava em desvantagem, por ela sempre me pedir defesa, atacava meu próprio pai... Complicado. Só que ainda o ponto de virada não estava aí.

Minha mãe me revelou que meu pai não era meu pai biológico aos 17 anos também. Não, não é ainda esse ponto que surto. rs Em julho de 2007, eu absorvi muitas coisas ruins e desnecessárias ao viajar para a casa da minha vó. Tia injuriando minha mãe, outra parente roubando tudo de outra parente para comprar cerveja, eu tinha que ler no banheiro se quisesse algum espaço, fora o caos aéreo ao retornarmos para casa.

Aí, mamãe deu o bote: aproveitando que eu estava em Brasília não muito bem psicologicamente, me fez ver logo quem eu não queria naquele momento, o pai biológico. Ela fez isso, dizendo ela, para mostrar-me mal para ele e provocar o sentimento de culpa que nunca apareceu por tê-la largado grávida. Mas ela não revela que ao estar grávida, o chefe dela, que estava em divórcio, assumiu a paternidade de outro para si. Não contou que eu estava mal pela péssima viagem na casa da minha vó. Não contou que ela até hoje sofre por esta frustração de amor. Não era por mim, ela fez isso pelo reencontro com aquele que a abandonou. Foi demais para mim.

Algo quente subiu dos meus pés até o topo da cabeça. Dizendo o mestre yoga da minha mãe isso foi a kundalini, que traz sérias consequências a quem desperta de forma leiga. Meu pai do coração, místico, entendeu como um desarranjo de chacras, já que minha vibração de aura ficou suja com aquele estranho vermelho. O plantonista disse que era escarlatina. O primeiro psiquiatra deu o diagnóstico de boderline. Mas o segundo e o terceiro de bipolar. O diagnóstico de bipolar venceu. rs

Mesmo com obstáculos difíceis nesta autoconstrução enquanto indivíduo, meu pai foi o maior herói. Um exemplo de que homens podem ser, sim, fortes aliados para o empoderamento feminino. Sua aceitação a quem eu sou, mesmo fugindo de muitas convenções de gênero desde pequena. O estímulo ao meu desenvolvimento intelectual, expressivo, artístico, de autoestima, humano. Seu amor incondicional.

Quem me conhece nem imagina que já tive esse diagnóstico, e quem sabe nunca me enxergou assim. Vai ver por causa da constante estabilidade conseguida com muito exercício de flexibilidade. Vai ver porque o psiquiatra disse que minha mente está "compensada", ou seja, com a neuroquímica em dias mesmo há mais de cinco anos sem nenhum remédio.

Fui tantas e tantas vezes além dos limites psicológicos, suportei muita coisa insuportável, que constitui quem eu sou a superação da dor dilacerante do meu antigo eu, a sensibilidade de amar sem atacar e muito menos defender. Se isso é força, não sei. Abracei a intensidade e nova vibração do meu espírito, meu escudo e minha espada. E com o profundo amor ofertado e recebido: vim, vi, venci.

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